Resumo: Os trabalhos com a Didática do Plurilinguismo (DP) estão ligados a uma vertente didática para o ensino-aprendizagem de línguas pluri/multi/translingue, sobretudo em um contexto mundial/internacional que cada vez mais cerca a sociedade, na qual os conhecimentos linguísticos, socioculturais, pragmáticos, discursivos, políticos etc., são necessários. Assim, o sujeito é levado a compreender, entender, socializar, se posicionar e significar frente a esse mundo cada vez mais globalizado, multi/pluri/transcultural, que não funciona de maneira segmentada, língua por língua, mas, sim, de forma transversal.
Nesse sentido, a abordagem da DP está ligada a uma vertente didática para o ensino-aprendizagem de línguas pluri/multi/translingue (Araújo e Sá, 2007, 2018, 2019, Araújo e Sá & Melo-Pfeifer, 2016, 2017, Araúo e Sá & Pinho, 2015, Araújo e Sá et al, 2007, Melo-Pfeifer & Simões, 2017; Escudé & Olmo, 2019, dentre outros).
Problematicamente, atualmente, no Brasil, tem-se um ensino voltado única e estritamente à língua-alvo, deixando de lado, inclusive, suas próprias variedades e, sobretudo, as demais línguas, essas ditas como Estrangeira. A diversidade linguística e cultural presente nas escolas exige (Bortoni-Ricardo, 2005, 2008; Faneca, 2018), da parte dos professores, uma competência profissional que lhes permita construir práticas pedagógico-didáticas renovadas. O presente trabalho objetiva responder e refletir sobre a seguinte questão: “qual é a contribuição que a DP pode trazer para o ensino de Língua Portuguesa?”. Assim, a noção de Educação Plurilíngue e Intercultural, baseada em uma DP, pode ser uma perspectiva para uma resposta didática, entre outras possíveis, às necessidades da escola e de seus principais atores, os alunos e os professores. Essa noção é resultado de uma mudança de paradigma que ocorreu ao longo do tempo no ensino de Língua Portuguesa, por meio de uma série de mudanças que alteraram profundamente e contribuíram para a evolução da concepção tradicional monolíngue de aprendizagem de Língua Portuguesa para uma concepção que abordamos neste trabalho, uma concepção plurilíngue. Uma Didática monocentrada que separa as Línguas em domínios claramente diferenciados, não relacionados entre si e caracterizados por didáticas diferentes (didática de LE e de Línguas: regionais/minoritárias/escolarização/clássicas/ prestigiadas), deve ser mudada para uma concepção descompartimentada e holística das línguas que, sem negar as diferenças em seu status normativo, cognitivo e suas implicações didáticas, lhe conceda um espaço de igual prestígio em sala de aula. Em outras palavras, é preciso olhar para as línguas dos repertórios dos alunos (falantes de línguas regionais/minoritárias, de migração, de variedades não padronizadas/não legítimas na escola – da língua de escolarização) mesmo quando não sejam objeto de ensino. Espera-se, assim, contribuir com uma reflexão pedagógico-didática de como essas abordagens podem emergir nas aulas de Língua Portuguesa, pensando numa formação plural dos sujeitos, promovendo uma Educação Linguística.